segunda-feira, 10 de novembro de 2008

"Mirem-se no exemplo daquelas mulheres, de Atenas"


"Esse espetáculo tem 3 horas de duração e contém cenas de nudez e violência" - Esse é exatamente o mesmo aviso dado pelo anfitrião de "Orestéia - O Canto do Bode" que acaba de re estrear no Galpão do Folias em São Paulo.
Dagoberto Feliz fica ao lado da bilheteria assim que inicía-se a venda dos ingressos, fazendo o primeiro contato com a platéia, interagindo com as pessoas afim de passar as informações acima.

O grupo Folias comemora em 2008 seu décimo ano de existência, e com isso convencionou-se que seria preciso realizar algo realmente marcante em forma de comemoração e homenagem a cia.
A produção "Orestéia - O Canto do Bode" reproduz a trilogia trágica grega escrita mais de 2500 anos atrás: "A Orestéia” de Ésquilo, que é constituída das peças "Agamenon", "Coéforas" e "Êumenides", mas está longe de ser uma simples reprodução.
A trilogia por si só trata da formação do estado grego democrático e justiça para sua civilização.
Com o objetivo de relativizar a cultura brasileira, inserindo nossa história no inventário grego a montagem mostra a essência humana retratada e repetida através dos anos.
Isso é feito de forma tão bela e sutíl que a platéia identifica exatamente qual é a época da história brasileira está sendo retratada a qualquer momento.
Sinopse: Agamenon, rei grego, para fazer a guerra aos troianos deve sacrificar sua filha Ifigênia, fazendo uma oferenda aos deuses para que eles permitam que os ventos soprem e conduzam seus navios em direção à Tróia.
Dez anos depois, na volta do rei vitorioso na guerra de Tróia, sua mulher Clitemnestra o mata, ajudada pelo amante, Egisto, e instala a tirania.
A segunda peça, “Coéforas” narra a volta do filho de Agamenon e Clitemnestra, Orestes, à terra natal para vingar o pai, assassinando o casal que tomara o poder e assim libertando o povo.
Na terceira peça “Orestes” é perseguido pelas Fúrias, divindades encarregadas da punição dos crimes de sangue, até ser julgado por um tribunal instituído pela deusa Palas-Atena.

As três peças nos falam por paralelo e analogia, a respeito da constituição do continente latino-americano na contemporaneidade: - é assim que aqui, a primeira delas tratará do populismo dos anos 50 e 60; a segunda das ditaduras dos anos 70 e 80; a terceira da redemocratização a partir das últimas décadas do século XX.
Destacam-se alguns momentos memoráveis, como a cena que as nulheres aguardam anciosas o retorno (ou não) de seus maridos da guerra de Tróia, representando naqueles olhos cheios de lágrima e rancor milhares de outras mulheres e homens que estão sempre a espera de uma absolvição ou liberdade que pode nunca chegar.
Outro momento memorável é o instante que a rainha Clitemnestra assassina seu marido, recém regressado vitorioso da guerra de Tróia, onde o próprio ator após sua morte fica em cena as próximas duas horas do espetáculo em forma de uma espécie de estátua memorial em sua própria homenagem.
Com riqueza em utilização de recursos cênicos, multimedia, luz, som; com auxílio estratégico do rádio, tv e cinema o grupo utiliza também a todo o tempo elementos fundamentais da cultura brasileira essenciais para a identificação imediata de cada um de nós como que está sendo mostrado no palco.
Ex: MPB, candomblé, noticiários verdadeiros entre outros.

O espetáculo re estreou no mês de Outubro, devido ao grande sucesso de sua temporada inicial nas férias de Julho, e continua em cartaz até o final de Novembro.

"Orestéia - O Canto do Bode" simplesmente deve ser assistido por aqueles que acreditam no comprometimento com as artes cênicas ligadas a questões de compreensão social da raça humana, brasileira e individual.


Sex/Sab às 20h e Dom às 19h (até 30/11)

Mais informações sobre espetáculo e da cia podem ser obtidos no próprio galpão (11) 3361-2223
Endereço: Rua Ana Cintra, 213São Paulo - SP ou no site http://www.galpaodofolias.com.br/ (imagens e sinopse)

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